F. PEREIRA NÓBREGA, O FILÓSOFO DA PAZ.
Por Jose Tavares de Araújo Neto jtavaresnet@hotmail.com
Francisco Pereira Nóbrega, nasceu na Fazenda Jacu, vila de Nazarezinho, então município de Sousa, no dia 24 de abril de 1928. Filho da professora pombalense Jarda Nóbrega e de Francisco Pereira Dantas, um dos maiores ícones da história do cangaceirismo, celebrizado no meio como Chico Pereira.
Mesmo depois do casamento de Jarda e Chico Pereira, ocorrido por procuração na Igreja de Pombal, os encontros do casal eram às escondidas, já que o esposo era um foragido da justiça. “Casou por procuração, porque ele era procurado”. O casamento foi apenas o início de mais um capitulo de uma historia de amor, cujo fundo musical foi marcado pela cadência de tiros, gritos de dor e muito sangue. Nesse cenário, sob o sol causticante do sertão, intercalada por noites frias, muitas vezes enluaradas, foi vivido um grande romance de encontros e muitos desencontros. Dos desencontros, surgiram as incertezas e o medo. Dos encontros foram gerados os filhos Raimundo, Francisco e Dagmar.
Assim como os seus irmãos, desde o seu nascimento F. Pereira Nóbrega foi uma vítima inocente das constantes conflitos familiares, frutos das injustiças sociais, que culminaram com o surgimento do cangaço no nordeste brasileiro. Foi uma criança, como muitas nordestinas, que não teve o privilégio de usufruir o direito sagrado de ter um lar convencional, com a convivência natural ao lado de uma mãe, um pai e dos irmãos. Boa parte da infância passou na fazenda Jacu, próximo a vila de Nazarezinho, município de Sousa, pertencente a família paterna. Enquanto que os seus irmãos pombalenses viviam na fazenda Pau Ferrado, município de Pombal, de propriedade da família materna. Certamente nessa fase o menino Chico dava os primeiros passos em busca da essência da vida, originando uma curiosidade que mais tarde o tornou um filósofo na verdadeira concepção do título. “Eu começava a ter uso da razão. Começava a perguntar as coisas, a comparar. Parece que me vejo ainda no meio dos meus colegas de infância. Falavam em “papai”, em “mamãe”. Brincavam com seus irmãos. Era então que me sentia sufocado por um mistério. Eu não tinha pai, mãe, irmãos, nada disso. Se tinha, não apareciam. Se apareciam, não sabia, não me lembrava”.
Duas pessoas foram de fundamental importância na educação dos meninos de Chico Pereira: Jarda Nóbrega, a mãe, e o tio Abdias Pereira. Os filhos de Chico Pereira foram ao máximo poupados de qualquer influência que os fizessem também personagens da triste história que envolveu a família. O que não impediu de serem tratados com uma certa discriminação e incessantes cobranças por pessoas do meio. Enquanto uns os apontavam como filhos de cangaceiro, outros os incitavam a fazer vingança para “lavar a honra” da família. Jarda, no afã de proteger os filhos, queimou todos os documentos ligados à tragédia. “Dir-se-ia que Jarda queria queimar seu próprio passado, para salvar o futuro dos seus filhos. E salvou-o.” Raimundo formou-se em engenharia civil, pela Escola de Engenharia do Recife, anos depois desapareceu misteriosamente em Brasília. Dagmar fez-se frade franciscano, adotando o nome de Frei Albano.
Francisco tornou-se padre, e, buscando resgatar uma divida de honra, escreveu o livro “Vingança, não”, onde narra a saga de seu pai e tios, Aproniano e Abdias, apontando os reais motivos que os levaram a envolver com o cangaço. “Vingança, não”, que foi originalmente prefaciado pela renomada romancista Rachel de Queiroz, hoje representa um das mais importantes obras literárias sobre o cangaceirismo. Há décadas que empresas cinematográficas tentavam sem sucesso adquirir os direitos para adaptação da obra para o cinema. As negociações eram sempre emperradas devidas as muitas exigências do autor, que fazia questão em preservar a verdade histórica, além de exigir garantias da qualidade do produto. Pessoas muito próximas garantem que pouco antes de ser vitimado por um acidente vascular cerebral, que o levou a óbito no último 22 de janeiro, ele tinha chegado a termo com uma importante empresa da indústria cinematográfica.
Em 1968 abandonou a batina, mas nunca deixou de ser padre, como gostava de dizer. Em 1971 contraiu núpcias com Lígia Aparecida Moura Pereira Nóbrega, união que deu origens aos filhos Melissa, Marama e Francisco.
As suas pregações filosóficas de alto apelo social e político, dedicadas sobretudo a defesa dos excluídos, refletem o seu engajamento no movimento da ala progressista da Igreja Católica, a denominada Teologia da Libertação, que evoca a opção preferencial pelos pobres. F. Pereira Nóbrega, filho do célebre Chico Pereira (um homem que sentindo-se injustiçado, como forma de protesto contra o poder constituído, no dia 27 de Julho de 1924, se juntou ao grupo de Lampião para atacar a cidade de Sousa), foi buscar na experiência de vida da caatinga nordestina e nos ensinamentos filosóficos das escolas cristãs européias, para mostrar que só através da tolerância e do perdão o homem é capaz de conseguir a glorificação em sua breve passagem pelo planeta. Para a meditação dos homens deixou uma mensagem que mais parece a síntese de sua vida: “Vingar-se é menos do que humano, porque é próprio das feras. Perdoar é mais do que humano, porque é próprio de Deus.”
Pombal (PB), em 24 de janeiro de 2006.
Francisco Pereira Nóbrega, nasceu na Fazenda Jacu, vila de Nazarezinho, então município de Sousa, no dia 24 de abril de 1928. Filho da professora pombalense Jarda Nóbrega e de Francisco Pereira Dantas, um dos maiores ícones da história do cangaceirismo, celebrizado no meio como Chico Pereira.
Mesmo depois do casamento de Jarda e Chico Pereira, ocorrido por procuração na Igreja de Pombal, os encontros do casal eram às escondidas, já que o esposo era um foragido da justiça. “Casou por procuração, porque ele era procurado”. O casamento foi apenas o início de mais um capitulo de uma historia de amor, cujo fundo musical foi marcado pela cadência de tiros, gritos de dor e muito sangue. Nesse cenário, sob o sol causticante do sertão, intercalada por noites frias, muitas vezes enluaradas, foi vivido um grande romance de encontros e muitos desencontros. Dos desencontros, surgiram as incertezas e o medo. Dos encontros foram gerados os filhos Raimundo, Francisco e Dagmar.
Assim como os seus irmãos, desde o seu nascimento F. Pereira Nóbrega foi uma vítima inocente das constantes conflitos familiares, frutos das injustiças sociais, que culminaram com o surgimento do cangaço no nordeste brasileiro. Foi uma criança, como muitas nordestinas, que não teve o privilégio de usufruir o direito sagrado de ter um lar convencional, com a convivência natural ao lado de uma mãe, um pai e dos irmãos. Boa parte da infância passou na fazenda Jacu, próximo a vila de Nazarezinho, município de Sousa, pertencente a família paterna. Enquanto que os seus irmãos pombalenses viviam na fazenda Pau Ferrado, município de Pombal, de propriedade da família materna. Certamente nessa fase o menino Chico dava os primeiros passos em busca da essência da vida, originando uma curiosidade que mais tarde o tornou um filósofo na verdadeira concepção do título. “Eu começava a ter uso da razão. Começava a perguntar as coisas, a comparar. Parece que me vejo ainda no meio dos meus colegas de infância. Falavam em “papai”, em “mamãe”. Brincavam com seus irmãos. Era então que me sentia sufocado por um mistério. Eu não tinha pai, mãe, irmãos, nada disso. Se tinha, não apareciam. Se apareciam, não sabia, não me lembrava”.
Duas pessoas foram de fundamental importância na educação dos meninos de Chico Pereira: Jarda Nóbrega, a mãe, e o tio Abdias Pereira. Os filhos de Chico Pereira foram ao máximo poupados de qualquer influência que os fizessem também personagens da triste história que envolveu a família. O que não impediu de serem tratados com uma certa discriminação e incessantes cobranças por pessoas do meio. Enquanto uns os apontavam como filhos de cangaceiro, outros os incitavam a fazer vingança para “lavar a honra” da família. Jarda, no afã de proteger os filhos, queimou todos os documentos ligados à tragédia. “Dir-se-ia que Jarda queria queimar seu próprio passado, para salvar o futuro dos seus filhos. E salvou-o.” Raimundo formou-se em engenharia civil, pela Escola de Engenharia do Recife, anos depois desapareceu misteriosamente em Brasília. Dagmar fez-se frade franciscano, adotando o nome de Frei Albano.
Francisco tornou-se padre, e, buscando resgatar uma divida de honra, escreveu o livro “Vingança, não”, onde narra a saga de seu pai e tios, Aproniano e Abdias, apontando os reais motivos que os levaram a envolver com o cangaço. “Vingança, não”, que foi originalmente prefaciado pela renomada romancista Rachel de Queiroz, hoje representa um das mais importantes obras literárias sobre o cangaceirismo. Há décadas que empresas cinematográficas tentavam sem sucesso adquirir os direitos para adaptação da obra para o cinema. As negociações eram sempre emperradas devidas as muitas exigências do autor, que fazia questão em preservar a verdade histórica, além de exigir garantias da qualidade do produto. Pessoas muito próximas garantem que pouco antes de ser vitimado por um acidente vascular cerebral, que o levou a óbito no último 22 de janeiro, ele tinha chegado a termo com uma importante empresa da indústria cinematográfica.
Em 1968 abandonou a batina, mas nunca deixou de ser padre, como gostava de dizer. Em 1971 contraiu núpcias com Lígia Aparecida Moura Pereira Nóbrega, união que deu origens aos filhos Melissa, Marama e Francisco.
As suas pregações filosóficas de alto apelo social e político, dedicadas sobretudo a defesa dos excluídos, refletem o seu engajamento no movimento da ala progressista da Igreja Católica, a denominada Teologia da Libertação, que evoca a opção preferencial pelos pobres. F. Pereira Nóbrega, filho do célebre Chico Pereira (um homem que sentindo-se injustiçado, como forma de protesto contra o poder constituído, no dia 27 de Julho de 1924, se juntou ao grupo de Lampião para atacar a cidade de Sousa), foi buscar na experiência de vida da caatinga nordestina e nos ensinamentos filosóficos das escolas cristãs européias, para mostrar que só através da tolerância e do perdão o homem é capaz de conseguir a glorificação em sua breve passagem pelo planeta. Para a meditação dos homens deixou uma mensagem que mais parece a síntese de sua vida: “Vingar-se é menos do que humano, porque é próprio das feras. Perdoar é mais do que humano, porque é próprio de Deus.”
Pombal (PB), em 24 de janeiro de 2006.
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